quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Contando histórias

 Eu estava pensando, outro dia, no quanto gosto de ouvir uma boa história. De preferência, histórias da vida. Eu também gosto de quem gosta de ouvir, porque gosto muito de falar (rs). É tão bom ouvir, e eu acho que sou boa como ouvinte. Mas também é tão bom falar e ser ouvida. Tudo isso me remete à alguém muito importante na minha vida. Uma pessoa que me ensinou as melhores coisas que eu sei e que teve uma influência imensa na pessoa que me tornei: minha querida avó, Angelina. Mas nós a chamávamos, simplesmente de Vó Lina. 

Ela não tinha estudo, mal escrevia seu nome, mas fazia cálculos. Sabia bem o preço das coisas e sabia dar valor a tudo o que possuía. Vó Lina era uma contadora de histórias sensacional! Como eu amava sentar ao lado dela e ouvir a história de quando ela conheceu meu avô. Ela contava com tanto realismo e nós ouvíamos uma, duas, três, dez vezes e nunca nos cansávamos.

Meu avô, embora também tivesse pouca leitura, era um verdadeiro poeta. Eu o conheci, claro, mas os tempos eram outros. Quando eles ainda namoravam, meu avô servia o exército e foi convocado para servir na guerra e ela contava detalhes de como ele conseguira se esquivar dessa convocação e da emoção que sentiu quando o viu, retornando para casa.

Minha avó não lia, mas sabia decor as poesias que meu avô escrevia para ela enquanto estava no exército. Sua irmã mais nova lia para ela. 
Minha avózinha recitava com tanta emoção, como se tivesse sido escrito naquele tempo. E ela chorava copiosamente. E nós, chorávamos juntos. 

Se eu tivesse uma máquina do tempo e pudesse voltar um dia que fosse, voltaria na última vez que ela recitara para mim. Porque se eu soubesse que seria o último, teria transcrito cada palavra, para ler para minhas filhas e contar a elas aquela história tão bela. Bem, eu sei que meu avô, no fim da vida, não foi um bom exemplo de marido. Era dependente de álcool e isso foi destruindo-o aos poucos. É uma pena, dizem que ele era um bom homem quando não estava sob o efeito da malvada da pinga.

Eu perderia algumas horas do meu dia, ou melhor, ganharia, ouvindo uma boa história, como a da minha avó. Imaginando todas as dificuldades vividas durante o período de guerra, como era sua convivência com seus pais e sogros, que eram espanhóis. Ah, quanta riqueza! 

Os tempos em que vivemos também ficarão marcados como dias dificeis, sobretudo, devido à pandemia. Contarão sobre as perdas, os pequenos ganhos de cada dia, sobre os medos e como enfrentamos esses dias, buscando o mínimo de coragem que nos fosse possível.

Quem dera alguém também queira escrever sobre a nossa vida, nossas lutas! Quem dera alguém continue contando a nossa história para as futuras gerações!