sábado, 25 de agosto de 2012

"Não tenham medo deles, pois não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada de oculto que não venha a ser conhecido" (Mateus 10, 26)

___"Acende a luz!"
___"Olha lá..."
Parecia tudo perfeito naquele dia. Momentos de profunda interiorização. Era como um sonho. Ninguém podia imaginar o que estava para acontecer à noite. O pesadelo estava só começando.
Quando se tem no coração a inocência de uma criança, a maldade alheia é como uma lança que penetra o fundo do coração.
Ela era assim. Simples, suave, pequena demais para compreender a natureza daquela humilhação. Sentia um misto de vergonha, indignação, pudor e, até mesmo, arrependimento. Mas arrependimento de quê? Qual teria sido o seu pecado? Por onde seus pés tinham pisado que só restavam lama?
Quando aquela luz foi acesa, quando aquelas vozes todas começaram a acusá-la. A sim, ela e a outra. Não havia trevas maiores do que aquelas, quando a luz foi acesa.
Ninguém dormiu naquela noite. Sobre a penumbra, diante de Deus, todos os sentimentos, ainda confusos, se dissolviam em lágrimas. A outra também chorou. Se por vergonha, arrependimento ou qualquer outro sentimento, o que ela desconhecia completamente.
A noite durou quase uma eternidade para acabar. Logo veio a luz do dia, e com ela foi bem mais fácil encarar a verdade.
É difícil acreditar que as coisas podem melhorar quando tudo o que se tem é o caus.
Resolveu que devia confessar-se. Mais uma vez o pudor tomava conta de seu coração. Já não sabia se acreditava no que sentia, ou se se convencia da mentira que queriam fazê-la acreditar.
Como encarar as outras pessoas? Que vergonha! Que humilhação!
No final da manhã todas estavam lá, na fila da confissão.
Na manhã seguinte o alívio. Ele chegara! Seu grande amor estava lá! Passara a noite viajando para chegar logo cedo. Parecia que podia adivinhar o ocorrido! Foi um encontro de muitas lágrimas, mas muito feliz.
Ele a ajudou a superar tudo aquilo e aproveitar os últimos momentos na presença daquele lugar abençoado.
A dor da humilhação demorou muito a passar. Aquelas palavras duras soaram forte em sua mente durante anos.
Por infelicidade do destino as suspeitas eram verdadeiras. A outra era um tipo diferente: menina-moleque.
Ela não sabe o porque tudo isso acontecera. Mas a vida teve que cuidar de afastá-las, pois era impossível conviver com a humilhação presente em sua lembrança todos os dias.
Ninguém tem o direito de julgar, condenar, humilhar alguém pelas impressões que causam. O escândalo traumatiza, agoniza, maltrata a alma. Ser discreto é para o fortes, os que tem certeza do que fazem. Ninguém é dono absoluto da verdade, por isso não pode se sentir maior, acima do bem e do mal. Quando o ser humano aprender tudo isso, saberá respeitar o espaço do outro ao invés de tentar destruí-lo.



terça-feira, 7 de agosto de 2012

Sempre acreditei em amizades que duram a vida toda. Sonhadora e romântica, fui menina, moça, mulher, tudo ao mesmo tempo. Quis crescer quando devia ser criança e quis ser criança, quando já não podia mais.
A vida humana é composta de conquistas, fracassos, esperança e grandes mudanças. As mais significativas acontecem quando uma pessoa sai de um estado de vida e faz outras escolhas, que podem mudar para sempre o rumo de uma ou mais vidas.
O importante é que a gente sempre aprende. Mas, infelizmente, quase que por instinto, também aprendemos a nos defender das coisas ou das pessoas que nos magoam.
Dialogar é sempre a melhor opção, mas para isso, precisa haver quem fale e quem seja capaz de escutar.
Há muitos anos atrás, tive uma amiga muito querida. Apesar de um pouco mais velha, tínhamos um relacionamento muito saudável. Juntas fizemos muitas coisas boas: lindas serenatas, passeios ao sol, na chuva, longe ou perto. Lemos, trocamos experiências, confidências, rimos e choramos, choramos muito. Fomos um pouco de tudo, irmã, mãe, filha e amiga uma da outra.
Por razões que hoje nem consigo recordar, foi mais fácil optar pela própria defesa, a enfrentar as diferenças que foram surgindo no decorrer da vida. A distância não separou somente nossos corpos, mas nossos corações. Acredito que esta é a pior de todas as distâncias.
Depois de tanto tempo, por meios inimagináveis, voltamos a nos unir... Via satélite, entre uma linha e outra, numa conversa tímida, quase sem querer, tudo é revelado, exposto e resolvido.
Lágrimas, sorrisos, nem sei, porque agora, já não é mais a distância do coração que nos separa, mas a física. Hoje, são aproximadamente 1500 quilômetros que nos separam fisicamente. Porém, menos de um segundo é o suficiente, para nos unir, em tempo real, nesta nova realidade.
Acredito que um dia vamos nos encontrar novamente. Sempre acreditei nisso, no fundo do meu coração.
Amigos também podem se desentender. E apesar de ser bem mais fácil excluir da própria vida quem nos causa algum dessabor, a lacuna deixada pela ausência do amigo é um espaço que jamais outra pessoa poderá preencher.
Outros amigos vieram e ainda virão. Muitas pessoas ainda farão diferença em nossas vidas. Mas o amigo fiel, o irmão, aquele com quem confidenciamos os sentimentos mais profundos da alma, esse vai sempre permanecer em nosso coração.