sexta-feira, 12 de outubro de 2012


     Remexendo os arquivos

                    Estava mexendo em arquivos antigos e encontrei escritos lindos, de fatos que já nem me lembrava mais. Entre eles, escolhi este. Resolvi arquivar aqui, no caso de perder os originais.
                    Tudo o que se quer conquistar na vida exige tempo e algum esforço, principalmente se for referente á carreira profissional. 
                    Mas o importante mesmo é não deixar passar as graças que recebemos em cada momento da vida.
                    Sempre observo como a vida é dura com algumas pessoas e tão fácil com outras... Alguns jovens entram no mercado de trabalho ainda crianças. Deixam de brincar muito cedo, perdem suas ilusões, entram para o mundo real e descobrem o valor da vida. Ainda esses dias pude observar dois garotinhos, e peço permissão para apresentá-los: Lucas, de 15 anos e Jonas, de 12.
                    O primeiro, encontrei na prefeitura, vendendo salgado de setor em setor. Perguntei-lhe seu nome e sua idade e ele me disse que é o mais velho de sete irmãos, sendo que sua mãe tem pouco mais de 30 anos. Tudo o que ele ganha, entrega nas mãos dela, e dá para tirar uns R$ 8,00 por dia, se a venda for boa. Ele estuda, mas está condenado a nunca mais possuir a ilusão de ser criança, de brincar despreocupado, de pedir presentes absurdos, de preços elevados, só porque viu na vitrine da loja ou na casa do vizinho rico. Ele sabe quanto custa o pão francês e que não dá para brincar debaixo do chuveiro porque a luz e a água estão custando o “zoio da cara”.
                    Já o outro, um pouco mais jovem, passa suas noites pelas ruas de Jacarezinho engraxando sapato. Quando o vi logo me lembrei de um amigo que quando criança também tinha este mesmo ofício. Ele oferecia uma engraxada, mas todo mundo estava de tênis. Então pedia uma moedinha, para comprar um cachorro quente ou mesmo uma pulseirinha na barraquinha da dona Maria, coisas de moleque. Da mesma forma que com Lucas, comecei a investigar o pequeno Jonas (nome de profeta e de padre!). Ele mora em Santo Antonio da Platina e viaja, de ônibus, toda noite para Jacarezinho ganhar um dinheiro para ajudar o pai no sustento da família. Perguntei-lhe se sua mãe sabia que fazia isso, ele disse que sim, que ela o apoiava, pois ele precisava ajudar em casa. Disse-me também que está na escola, cursa a sétima série do primeiro grau e sempre tira boas notas. Depois de conversarmos um pouco, deixe-lhe a única nota de R$ 1,00 que tinha e pude notar como ficou feliz. Eu não tinha sapado para ser engraxado. Depois o observei lustrando o sapado de um colega do outro lado. Ele não tinha preguiça, estava lá para trabalhar, tinha levar uma grana para casa. Tenho visto o pequeno Jonas todos os dias com seu caixote de engraxate nas escadarias da Faculdade: “Vai uma engraxadinha aí? Uma moedinha pra mim, dona?”

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