sábado, 24 de novembro de 2012

ÓCULOS DA ALMA


Eu sempre ouvi dizer que com o avanço da idade algumas coisas começam a retroceder no corpo humano.
Algumas células deixar de se renovar e morrem, os cabelos branqueiam, começam a aparecer diversos problemas de saúde. Doenças, para dizer a verdade. Para evitá-las, ou minimizar o seu poder sobre esse casco humano, é preciso tomar certas precauções, como evitar alguns tipos de alimentos, não ter vícios e praticar atividade física regular. Tudo bem até aí. Mas e a visão? Visão de todas as formas possíveis de se imaginar.
Primeiro a visão física! Os olhos... 
Desde a adolescência eu via como minha irmã sofria com a miopia. Não conseguia ver de longe. Letras, pessoas, placas, tudo! Precisava do auxílio do bom e velho óculos.
Meus pais também começaram a sofrer desse mau. Só que o problema deles era no braço. O braço estava curto demais para a visão, não conseguiam ver de longe. Para resolver, tomar posse do bom e velho óculos!
Já eu, sempre me gabei da boa visão. Minha capacidade visual era invejável. Era solicitada para ler bula de remédios, manual de instrução de aparelhos eletrônicos, letras minúsculas que ninguém conseguia ver, mas eu via. Às  vezes, forçava um pouco, mas não conseguia imaginar o que seria a vida sem esta visão fantástica!
O tempo passou e, apesar de não ser tão velha assim, comecei a perceber uma pequena deficiência na minha eficiente arte de enxergar! 
Algumas vezes ouvi pessoas que sofriam de miopia dizerem que sem os óculos, não conseguiam distinguir as pessoas. Outras ainda, que diziam que viam os outros como se fossem árvores que se mexiam.
Eu vejo muito bem as pessoas. Às vezes não as distingo de longe, mas vejo que são gente, não árvores ambulantes. Mas já as letras... Elas se embaralham na minha frente de tal maneira que nem sei. Hoje eu precisava da minha maravilhosa habilidade em ler placas de trânsito, mas eu não conseguia enxergar a longa/média distância. Não levei os óculos. Esse negócio de andar de óculos me incomoda um pouco. 
Mas, voltando ao assunto das mudanças de visão, penso também na visão espiritual, íntima, profunda, da vida e das pessoas!
Olhar para as pessoas como seres limitados, cheios de pecados, assim como eu, mas também com grandes qualidades e capacidade de amar...
Penso em algumas coisas que vale a pene ressaltar. Como uma mulher e um homem que desejam, mais do que tudo nesta vida, serem pais e encontram tantas limitações físicas para isso... Ver nestes filhos amados de Deus um desejo que é natural da vida, que foi o próprio Deus quem nos deu, para continuar a sua maravilhosa obra de criação, com dificuldades de poder realizar seu sonho!
Penso também nas ausências da vida. Aceitar a morte, ou conviver sem aquela presença preciosa. Ter um olhar misericordioso por aquela filha que perdeu a mãe, e com ela a ternura, a grandeza de uma mulher maravilhosa. E ainda, ao consolar, dizer coisas que nem sei... É fácil falar da morte, quando não é alguém tão próxima, tão querida, tão amada. A única visão que podemos ter sobre isso, é acerca da fé!
São tantas outras visões da vida. Olhares que não se limitam no que está a poucos metros de distância. Olhar para o infinito... e enxergar ali uma ponta de esperança, uma chance de ser feliz, um meio de conviver!
Talvez a alma também esteja precisando de óculos, porque tem tanta coisa que ainda não consigo enxergar direito. Mas esta correção vem com a vida, com a maturidade. Todo mundo passa por isso. É preciso saber aproveitar as oportunidades.



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